Mais uma vez, o consumidor brasileiro é pego no fogo cruzado de uma discussão entre governo e representantes do agronegócio. A senadora Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura, criticou a proposta do presidente Lula de reduzir impostos na importação de alimentos como forma de conter a alta nos preços. Para ela, o problema não está na oferta de alimentos, mas na falta de “dever de casa” do governo petista. Uma argumentação muito conveniente para quem defende o setor que concentra lucros gigantescos enquanto a população paga caro pelo arroz e feijão.
É curioso como as soluções sugeridas por Lula, ainda que paliativas, são taxadas como inúteis por quem deveria apresentar alternativas mais concretas. A senadora sul-mato-grossense não hesitou em declarar que não há desequilíbrio no agronegócio brasileiro, ignorando a realidade de milhões de consumidores que sentem o peso da inflação nos alimentos básicos. Afinal, é fácil falar em estabilidade quando não se está na fila do supermercado fazendo contas para fechar o mês.
Enquanto isso, o governo tenta articular medidas emergenciais, como a redução de alíquotas de importação e a criação de um novo Plano Safra que priorize alimentos da cesta básica. É uma tentativa de aliviar a carga para o consumidor, que já não aguenta mais. Mas claro, mexer nos impostos incomoda setores que preferem manter o mercado sob seu controle, mesmo que isso signifique sufocar as famílias brasileiras com preços abusivos.
O que chama atenção é a narrativa de que a culpa pelos altos preços recai exclusivamente sobre a “desconfiança” gerada pela gestão petista. No entanto, o IPCA de janeiro de 0,11% mostra que os preços de alimentos como tomate e café continuam a subir independentemente das disputas políticas. A pergunta que não quer calar é: quem realmente se beneficia com essa inflação? Não parece ser o consumidor.
Tereza Cristina afirma que o governo “joga a culpa para o setor”, mas é difícil ignorar a realidade de um agronegócio que exporta em larga escala e muitas vezes deixa o mercado interno à mercê da lei da oferta e procura. Enquanto isso, as prateleiras dos supermercados contam uma história diferente: o brasileiro está cada vez mais apertado e precisa optar por produtos mais baratos ou de qualidade inferior para sobreviver.
Se o governo realmente deseja resolver o problema, as soluções precisam ir além de discursos e medidas pontuais. Investir em produção nacional, aumentar a fiscalização sobre o repasse de custos para o consumidor e garantir que incentivos cheguem a pequenos produtores pode ser um caminho mais efetivo. O Plano Safra anunciado é um passo na direção certa, mas precisa ser acompanhado de execução eficiente e transparência.
A grande questão é que, no meio desse debate, o consumidor segue como o maior prejudicado. A briga entre governo e agronegócio não resolve o problema imediato de quem não tem dinheiro para completar a cesta básica. O que se espera é menos discursos políticos e mais soluções práticas que garantam comida na mesa de todos os brasileiros.
Enquanto as partes discutem, o povo continua pagando a conta, literalmente. Reduzir impostos de importação pode não ser a solução perfeita, mas é uma forma de aliviar o fardo. Afinal, a prioridade deve ser o consumidor, e não os interesses de setores que lucram enquanto a maioria sofre.
Seja com redução de impostos ou incentivos à produção, o fato é que o brasileiro não pode continuar refém de disputas políticas e interesses privados. A comida no prato é uma necessidade básica, não um luxo, e a solução para a crise dos alimentos precisa colocar o consumidor no centro do debate.