Enquanto a prefeita Adriane Lopes (PP) faz pose para fotos e repete discursos sobre sensibilidade social, mães de crianças com deficiência em Campo Grande vivem o drama diário de não saber se seus filhos terão fraldas, fórmulas ou medicamentos básicos. Agora, o Tribunal de Contas do Estado decidiu fazer o que a gestão municipal se recusa a fazer: investigar o que está por trás desse abandono cruel.
A investigação determinada pelo conselheiro Jerson Domingos, do TCE-MS, não é por acaso. O Ministério Público de Contas já alertou sobre falhas, omissões e o não cumprimento de ordens judiciais. Isso mesmo: nem quando a Justiça determina, a prefeitura cumpre. O TCE quer saber onde estão os recursos, quem está lucrando com compras emergenciais e licitações nebulosas, e por que as mães precisam implorar por algo que é direito garantido por lei.
O mais grave é que não se trata de uma situação nova. Há dois anos e meio, essas mães batem em todas as portas — da prefeitura ao Ministério Público, passando pela Assembleia Legislativa — sem que a prefeita mova uma palha. Enquanto isso, a gestão Adriane alega problemas com “fornecedores” e “setor de compras”, como se fralda fosse artigo de luxo e leite especial fosse item de festa.
O drama sensibilizou deputados estaduais, vereadores e até o TCE — menos a prefeitura. Na semana passada, na Assembleia, mães relataram fraldas que causam lesões, fórmulas entregues incompletas, medicamentos que somem e uma fila invisível de ordens judiciais sendo ignoradas por quem deveria cumpri-las. A cada denúncia, uma desculpa esfarrapada; a cada protesto, uma nota genérica.
A vice-presidente do grupo, Joelma Belo, resumiu o sofrimento de centenas de famílias: “Já fomos a todos os órgãos possíveis. O que recebemos — quando recebemos — vem incompleto. Estamos cansadas de prometerem e não cumprirem.” Mas parece que para a prefeita, quem grita por direitos virou problema, e não prioridade.
Não bastasse o abandono, as mães atípicas ainda foram difamadas e acusadas de vender leite em pó, numa das campanhas mais baixas e covardes já vistas contra um grupo vulnerável. A tentativa de desmoralização só escancara o que todos já sabem: em vez de resolver o problema, a gestão Adriane prefere atacar quem denuncia.
Agora, com o TCE na cola, a prefeitura vai precisar explicar muito mais do que planilhas maquiadas. O Tribunal quer detalhes das compras emergenciais, das licitações, dos contratos e do porquê o município continua descumprindo decisões judiciais enquanto alardeia “avanços” que só existem nos discursos oficiais.
Como é possível um orçamento bilionário não garantir o básico para crianças que dependem do SUS? A resposta talvez esteja na má gestão, talvez em desvios, talvez no desinteresse absoluto em tratar vidas com a dignidade que
merecem. O que está claro é que o problema não é financeiro, é de vontade — ou a falta dela.
O que era para ser política pública virou humilhação recorrente. Crianças adoecem, mães se desesperam e a prefeitura se esconde. Mas a conta pode estar chegando. E, dessa vez, não será paga com discursos, mas com investigações, relatórios e, quem sabe, responsabilizações civis e criminais.
Porque quando até o Tribunal de Contas resolve fazer o trabalho que a prefeitura se recusa a fazer, fica evidente: o limite da paciência acabou.