Fedentina sem fim: o cheiro da impunidade em Campo Grande

Há 14 anos, moradores da região oeste de Campo Grande convivem com um problema insuportável: o mau cheiro vindo da planta da JBS. O odor, que se espalha por quilômetros, já motivou incontáveis reclamações, ações judiciais e até um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS). No entanto, o problema persiste, e a população continua refém da fedentina.

Recentemente, um morador inconformado decidiu denunciar a inércia do MPMS ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), cobrando respostas que, até agora, nunca chegaram. O cidadão destacou a complacência do MPMS com grandes empresários e criticou a demora para resolver o problema. Afinal, foram concedidos seis anos para a JBS “regularizar” a situação, o que significa que os moradores terão que suportar o cheiro de esgoto e plástico queimado até 2030.

O problema não é novidade. Desde que o primeiro TAC foi firmado, já se passaram 14 anos e nada mudou. A JBS pagou uma multa de R$ 500 mil, o MPMS assinou quatro aditivos ao acordo, mas a realidade continua a mesma: um cheiro insuportável que prejudica a qualidade de vida da população.

No ano passado, após uma série de reportagens, mais de 200 ações de moradores foram protocoladas na Justiça pedindo indenização por danos morais. Enquanto isso, o MPMS segue seu roteiro de lentidão e burocracia, mantendo uma postura mais amigável com a empresa do que com os cidadãos afetados.

O mais curioso é que, recentemente, uma nova fiscalização constatou o que todos já sabiam: a JBS continua exalando o mesmo mau cheiro e precisa tomar providências. Os técnicos apontaram falhas estruturais que permitem o escape de gases, além de problemas na cortina arbórea que deveria amenizar o odor. A recomendação? Mais um “projeto de correção”, como se a população já não tivesse esperado o bastante.

Outro ponto alarmante é o impacto ambiental. O córrego Imbirussu, poluído pelo vazamento de efluentes da JBS, só estará completamente recuperado em 2030. O curioso é que essa “recuperação” só começou após uma multa de R$ 100 mil, um valor irrisório para uma empresa que lucra R$ 27,5 bilhões por mês.

A situação da JBS em Campo Grande reflete um problema maior: a ineficiência de órgãos públicos em fiscalizar e cobrar soluções de grandes empresas. O MPMS, que deveria ser o guardião da lei e do interesse público, segue sua tradição de inércia, precisando até de “puxões de orelha” do CNMP para agir.

O Conselho Nacional do Ministério Público já apontou diversas irregularidades na condução dos trabalhos no MPMS. Em 2017, um relatório de 51 páginas revelou que promotorias de Justiça acumulavam procedimentos sem solução e sem protagonismo em investigações importantes. Como resultado, membros do MPMS foram substituídos após serem listados por sua ineficiência.

A população, enquanto isso, segue sentindo na pele – ou melhor, no nariz – os efeitos dessa negligência. O comércio local sofre com clientes fugindo da fedentina, crianças e idosos têm a saúde afetada, e a única certeza que resta é que o mau cheiro da JBS continuará pairando sobre Campo Grande por tempo indeterminado. Afinal, se nem um “puxão de orelha” do CNMP fez o MPMS agir, quem pode garantir que algo vai mudar?

A grande pergunta é: até quando a população terá que aguentar esse fedor insuportável? Porque, se depender do MPMS e da JBS, a resposta pode ser: para sempre.

Compartilhe
Notícias Relacionadas
© 2024 O Consumidor News
Desenvolvido por André Garcia - www.conffi.com.br