Quando o aposentado achava que já tinha sofrido o bastante com filas, burocracia e migalhas de reajuste, vem a “Operação Sem Desconto” revelar que o buraco — e o rombo — é muito mais fundo. Segundo a Polícia Federal e a CGU, entre 2019 e 2025, mais de R$ 6,3 bilhões podem ter sido desviados das contas de aposentados e pensionistas do INSS por meio de “mensalidades associativas” cobradas sem autorização. Em Campo Grande e demais cidades de Mato Grosso do Sul, há centenas de vítimas — idosos que descobrem tarde demais que, além da saúde, também lhes tiraram o dinheiro na surdina.
O golpe é tão descarado que 97% dos entrevistados pela CGU em todo o Brasil afirmaram nunca ter autorizado qualquer desconto. Em Mato Grosso do Sul, foram ouvidas 57 pessoas e todas disseram a mesma coisa: não se filiaram a ninguém, mas alguém se filiou por elas — e com acesso direto à folha de pagamento do INSS. Alguém, nesse caso, com muito poder, pouca ética e nenhuma vergonha.
De 2016 a 2024, os valores cobrados por essas “associações” só fizeram subir. De R$ 413 milhões para quase R$ 3 bilhões. Uma escalada bilionária de extorsão institucionalizada. Tudo isso sob os olhos míopes — ou coniventes — de quem deveria proteger os beneficiários do sistema previdenciário.
Entre as estrelas da festa de horrores: Caap, Aapen, AAABP e outras tantas siglas que mais parecem fachada de máfia do que entidades representativas. Todas operando nacionalmente, todas envolvidas em centenas de ações judiciais por cobranças indevidas. A diferença é que agora não se trata apenas de burburinho nos cartórios — é caso de Polícia Federal, com mandados, prisões e sequestro de bens.
Só em Mato Grosso do Sul, mais de 500 processos pipocaram nos últimos 12 meses. E isso é só o que chegou ao Judiciário. Imagine o que ainda está perdido entre a ingenuidade de um aposentado e a esperteza de quem lucra com ela. Em um Estado onde o respeito ao idoso deveria ser regra, o que se vê é uma sequência de violações descaradas, enquanto os verdadeiros responsáveis ainda se escondem sob a toga do sistema.
Com a deflagração da operação, o governo federal correu para suspender os acordos que permitiam a essas entidades cobrarem direto do benefício dos aposentados. Um passo necessário, mas que chega com pelo menos seis anos de atraso — e bilhões já embolsados. A pergunta que fica é: e agora, quem vai devolver esse dinheiro?
Agora, a orientação é para que aposentados conferiram seus extratos no site Meu INSS e procurem a Justiça. O problema é que muitos sequer têm familiaridade com internet, e menos ainda com os atalhos jurídicos para resgatar o que é seu por direito. É o tipo de situação em que o Estado falha duplamente: primeiro, ao permitir o roubo; depois, ao dificultar o reembolso.
A cereja do bolo estragado foi a exoneração do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e o afastamento de quatro servidores e até de um policial federal. Um
festival de gente graúda envolvida em um esquema que tratava aposentado como gado a ser tosquiado em folha.
A Operação Sem Desconto é só o começo. Mas, se depender do histórico desse país, não será surpresa se no fim tudo acabar em pizza — que, claro, o aposentado não poderá pagar.