Basta abrir o Waze e tentar cruzar Campo Grande de ponta a ponta para ter uma experiência única: um verdadeiro safari urbano por entre alertas de buracos, crateras, valas e armadilhas que transformaram a cidade numa espécie de queijo suíço em escala metropolitana. E não importa se o trajeto é pelo centro, pelos bairros nobres ou pelas periferias — a recepção é sempre a mesma: “Buraco à frente”. E outro. E mais outro. E outro…
Parece exagero, mas é só abrir o aplicativo de trânsito para comprovar. O mapa da cidade virou um painel de guerra, com os motoristas desviando de crateras como se estivessem fazendo uma prova prática de direção em pista de obstáculos improvisada pela prefeitura. O problema é que a prova não termina nunca e o prejuízo é real, e vai direto pro bolso do cidadão.
Em algumas ruas, o asfalto virou uma lembrança distante. O mato cresce nos cantos, o esgoto escorre pelas calçadas e, claro, os buracos seguem abrindo como flores do descaso. E enquanto isso, a gestão da prefeita Adriane Lopes parece mais preocupada com posts nas redes sociais e obras com fita de inauguração do que com a base mais básica da infraestrutura urbana.
A impressão é que a cidade virou laboratório de resistência de suspensão automotiva. Aliás, se a indústria de amortecedores e rodas tivesse sede em Campo Grande, já estaria no lucro só com o que fatura por aqui. E, de quebra, ainda podia pedir isenção de ISS — afinal, ajuda mais que a prefeitura.
Não bastasse o risco de danos materiais, ainda há o perigo físico. Já houve relatos de motociclistas que caíram em buracos não sinalizados, de pedestres que tropeçaram em crateras no meio da calçada e até de veículos parcialmente engolidos por verdadeiros abismos urbanos. E a prefeitura? Silencia, terceiriza ou diz que “vai incluir no cronograma”.
E o mais irônico: enquanto a cidade afunda, o discurso da gestão é de progresso. Progresso pra onde? Porque se for por dentro de Campo Grande, o caminho é acidentado. Literalmente. Se a prefeitura não se responsabiliza pela manutenção básica das ruas, o que esperar dela nos assuntos mais complexos?
Campo Grande já teve outros problemas — buracos sempre existiram — mas nunca antes em tamanha escala, com tamanha negligência e tamanha normalização. O novo normal da cidade é frear a cada cem metros para não perder o para-choque.
Falta de recursos? Difícil acreditar. O que falta é prioridade, é planejamento e, sobretudo, respeito com o contribuinte, que paga IPTU, IPVA e ainda tem que bancar o alinhamento do carro uma vez por mês.
Diante de tanto buraco, o único asfalto liso que sobra em Campo Grande é o da propaganda institucional. Porque na prática, o que resta é um trajeto de obstáculos, um desafio de sobrevivência e um lembrete diário de que a cidade está, literalmente, afundando na própria incompetência.