No Jardim Los Angeles, bairro da periferia de Campo Grande, a areia cobre as ruas com a mesma abundância que o poder público cobre os ouvidos diante dos gritos da população. Foi em meio a esse cenário que Aline Cândida, de apenas 25 anos, perdeu a vida nesta segunda-feira (5), após derrapar numa rua tomada por terra solta e ser atropelada por um ônibus. A tragédia que chocou os moradores não é acidente, é consequência. E tem nome: negligência da gestão Adriane Lopes.
Cerca de 200 moradores se reuniram no fim da tarde para protestar, não por luxo, mas por infraestrutura mínima. Munidos de cartazes, fotos de ruas intransitáveis e muita indignação acumulada, eles ocuparam o cruzamento onde Aline morreu, agora conhecido por um apelido dado por quem vive ali: “a esquina da morte”.
Enquanto o asfalto não chega, os perigos só aumentam. A areia fina cobre o asfalto improvisado e transforma cada esquina em uma roleta russa para motociclistas, ciclistas e pedestres. Laís Avalo, babá e moradora do bairro, relatou já ter caído de bicicleta várias vezes. “Graças a Deus nunca estava com nenhuma criança. Mas é questão de tempo até acontecer algo pior”, desabafa.
Sônia Freitas Cunha, de 70 anos, carrega a frustração de cinco décadas vivendo no bairro e vendo os mesmos problemas se repetirem. “Aquela esquina já era pra ter um sinaleiro há muito tempo. Mas somos invisíveis pra prefeitura. Aqui ninguém vem, a não ser pra pedir voto”, dispara a aposentada com a lucidez de quem cansou de esperar.
Robson Lopes, morador há 15 anos do cruzamento onde a tragédia ocorreu, diz que os pedidos por melhorias são constantes e sempre ignorados. “A gente só tem a nossa voz. A manifestação é pacífica, mas é o único jeito de chamar atenção, porque a prefeita, por vontade própria, não move um dedo”, afirma.
O trânsito foi afetado durante o protesto, que foi acompanhado por quatro viaturas da Polícia Militar. Nenhuma viatura da prefeitura apareceu, o que, para os moradores, simboliza perfeitamente o abandono institucionalizado. A prefeita Adriane Lopes sequer mencionou o caso.
É curioso notar que enquanto a prefeita investe em publicidade e aumenta o próprio salário, bairros como o Jardim Los Angeles continuam atolados, não apenas em areia, mas em promessas. A esquina da morte é o retrato de uma gestão que ignora o básico e depois posa para fotos em inaugurações superficiais.
A população deu um prazo: se em 30 dias nenhuma providência for tomada, o protesto volta, maior e mais barulhento. Porque se a prefeitura faz ouvidos moucos, o povo agora grita mais alto. A morte de Aline não pode ser só mais um número na estatística de tragédias evitáveis.
Enquanto isso, a prefeita Adriane Lopes segue em silêncio, como quem espera que a poeira assente, ou que os gritos do povo se cansem sozinhos.