Plano de Voo revela os principais desafios econômicos para 2025

O Plano de Voo 2025 é um convite à ação e, segundo a pesquisa da Amcham, enfrentar esses desafios exige colaboração e inovação.

Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) realizou seu tradicional Plano de Voo no dia 17 de fevereiro. O evento ocorreu na arena da Bolsa de Valores (B3), em São Paulo. A abertura do evento ficou por conta da divulgação dos dados da pesquisa “Plano de Voo 2025”.

Pesquisadores realizaram o estudo com 775 empresários, que foram ouvidos entre 16 de dezembro de 2024 e 21 de janeiro de 2025. O CEO da Amcham BrasilAbrão Neto, apresentou os dados.

No que diz respeito ao consumo, os principais fatores que podem afetar a economia do Brasil são:

  • Políticas do novo governo dos EUA (60%);
  • Disputas geopolíticas e conflitos internacionais (58%);
  • Barreiras ao comércio (48%);
  • Comportamento das commodities (48%);
  • Desempenho da economia global (48%);
  • Liquidez internacional e fluxos de investimento (41%).

Plano de Voo – Desafios

Por analogia, segundo o estudo Plano de Voo, 72% dos entrevistados estão inseguros sobre o cenário econômico. No que tange ao cenário político, 45% acham que esse será o principal desafio do ano, ao passo que 36% responderam “insegurança jurídica e regulatória”.

A instabilidade política e econômica gera um ambiente de insegurança que pode impactar não apenas as empresas, mas também a vida dos cidadãos em geral. Quando os agentes econômicos se sentem inseguros, há uma tendência à contenção de investimentos. Ademais, decisões estratégicas podem ser aliadas, o que, a longo prazo, pode prejudicar o crescimento do país.

Em contrapartida, a insegurança jurídica e regulatória afeta diretamente a confiança dos investidores. Esse cenário leva a um aumento na cautela em relação a empreendimentos e negócios. E, por consequência, isso faz com que muitos optem por não investir ou a repensar suas estratégias a longo prazo.

Os riscos da economia

Entre os riscos para a economia brasileira em 2025, 77% dos entrevistados mencionam a alta taxa de juros; 64% apontam para o desequilíbrio fiscal; e 63% citam a inflação elevada. Quanto à desvalorização cambial, 59% acreditam que isso pode ter um impacto negativo na economia. E, ao todo, 54% dos respondentes acham que a instabilidade política pode atrapalhar o cenário.

Nesse ínterim, outro dado relevante da pesquisa Plano de Voo é que 60% dos empresários defendem que Brasília adote uma postura proativa para aumentar o diálogo e fortalecer as relações econômicas com Washington. E, por conseguinte, 31% acreditam que a abordagem deve ser mais moderada, mantendo a cooperação sem um protagonismo excessivo, enquanto apenas 9% consideram que o Brasil deveria ser reativo ou indiferente ao novo governo dos Estados Unidos.

Nas palavras de Abrão Neto, CEO da Amcham Brasil, a transição política nos Estados Unidos surge como o principal aspecto externo observado pelas empresas brasileiras em 2025, embora não seja o único. Em sua visão, “estabelecer uma relação construtiva e equilibrada com os Estados Unidos é essencial para salvaguardar os interesses de uma parceria que envolve um comércio de bens e serviços superior a US$ 100 bilhões por ano”.

Otimismo

Apesar das incertezas, o Plano de Voo 2025 aponta que as empresas continuam com expectativas otimistas para 2025. Conforme a pesquisa, 92% dos empresários veem um aumento nas receitas neste ano, sendo que mais de um terço deles espera crescimento superior a 15%. Esse progresso deverá ser impulsionado pela expansão do mercado interno, junto a iniciativas de redução de custos e aprimoramento da produtividade.

No que diz respeito à reforma tributária, regulamentada recentemente, 64% dos respondentes avaliam a reforma tributária como regular ou boa, à luz das expectativas empresariais e do cenário possível. Vale lembrar que a reforma almeja criar um ambiente mais equitativo e eficiente, que possa estimular investimentos e fomentar um crescimento sustentável. E quase metade dos respondentes (47%) acredita que a reforma tributária aumentará a competitividade no médio prazo. No mais, os mesmos 47% classificam a adaptação à reforma tributária como moderada ou sem complexidade enquanto 41% avaliam que a adaptação será complexa ou muito complexa.

Primeiro painel

Líderes empresariais, economistas e autoridades do Brasil, bem como dos Estados Unidos marcaram presença no evento do Plano de Voo. O primeiro painel, com o tema “Novo governo Trump e relações com o Brasil”, contou com a participação de Christopher Garman, diretor executivo para as Américas do Grupo EurásiaTodd Chapman, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil; e Fernanda Magnotta, professora coordenadora da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

Na mesa-redonda, os especialistas trataram as expectativas em relação à política externa do novo governo, destacando como essas mudanças podem impactar o comércio e a cooperação entre os dois países. Christopher Garman enfatizou a importância de um relacionamento fortalecido entre o Brasil e os Estados Unidos, citando oportunidades em áreas como investimentos e comércio tecnológico.

Todd Chapman, por sua vez, lembrou que a estabilidade política no Brasil é crucial para criar um ambiente favorável à atratividade de investidores americanos. Ele enfatizou que, apesar das diferenças ideológicas, o “diálogo continua sendo essencial para a construção de parcerias benéficas”.

Brasil, o Rei das Tarifas

O ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, disse que a abordagem dos EUA em suas relações diplomáticas e comerciais tende a ser “mais pragmática” com a nova administração de Trump, vez que a relação do país com a China “vai evoluir”. Na ocasião, ele afirmou que o Brasil se destaca no cenário global como um dos “reis” na aplicação de tarifas para proteger sua economia interna, especialmente no setor de etanol, onde há uma grande discrepância entre as tarifas aplicadas pelos EUA e pelo Brasil.

Apesar das tensões e das diferenças políticas entre os líderes, Chapman ressaltou que há espaço para negociação entre Brasil e EUA, com um enfoque pragmático vindo da Casa Branca.

Desdolarização

Na visão de Christopher Garman, as declarações de Lula sobre “desdolarização” durante a reunião dos Brics “não ajudam em nada”. O desafio, segundo ele, é encontrar o equilíbrio entre o entusiasmo com as incertezas que estão à mesa, principalmente com um governo que está iniciando um ciclo de tarifas e deportações em massa. “A fase de tarifas deve ser encarada com pessimismo, considerando uma complacência do setor privado em relação ao que está sendo discutido. Muitas das propostas não poderão ser concretizadas, pois são inviáveis. É complicado impor 25% de tarifas sobre tudo que vem do Canadá e do México”.

Em seguida, subiram ao palco Ana Vescovi, economista-chefe e diretora de Macroeconomia do banco Santander no Brasil; Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco; e Juliana Rosa, jornalista e comentarista de economia do Grupo Bandeirantes. Eles estiveram à frente do painel “A Economia do Brasil em 2025”.

O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, expressou que o Brasil, em se tratando de taxas, pode ser considerado “o país mais fechado do planeta”. Para ele, o país tem mesmo tarifas “bastante elevadas”. E, por isso, considera a reciprocidade nas políticas tarifárias como um “risco maior”. Honorato ressaltou que a manutenção dessas tarifas elevadas pode impactar não apenas o comércio exterior, mas também o crescimento econômico interno. Segundo ele, a falta de competitividade provocada por essas tarifas pode inibir investimentos e limitar a inovação no setor produtivo brasileiro.

Possibilidade de recuperação

Os três especialistas concordaram que, apesar dos desafios, há uma expectativa moderada de recuperação, desde que haja comprometimento com a implementação de políticas alinhadas a um desenvolvimento sustentável. O consenso do painel foi otimista, enfatizando a importância da colaboração entre setores privado e público para fomentar um ambiente favorável ao crescimento econômico.

As discussões também se voltaram para questões como a digitalização da economia e a importância da infraestrutura, que são consideradas cruciais para o avanço do Brasil nos próximos anos. Em conclusão, o painel evidenciou que, para que as metas sejam atingidas até 2025, é necessário um esforço conjunto e contínuo em múltiplas frentes.

Perspectivas para o setor empresarial

Fernanda Enxada ocupa a posição de diretora geral da Elanco BrasilPriscyla Laham é a presidente da Microsoft BrasilMarco Castro atua como sócio-presidente da PwC. Juntos, eles participaram do painel “Perspectivas do Setor Empresarial para 2025”.

Um dos temas discutidos de maneira aprofundada foi o impacto da Inteligência Artificial nos negócios. Priscyla destacou que seu Plano de Voo está em garantir infraestrutura de IA e de nuvem. A ideia é garantir que empresas e governos fiquem mais competitivos, para trazer prosperidade para o país. “A tecnologia nos ajuda a sermos mais produtivos. Mas uma das preocupações dos empresários é capturar as informações e ajudar os funcionários a serem mais produtivos. Ademais, ‘será que essa é a hora certa de investir’ é uma pergunta que permeia a mente de muitas pessoas”, afirmou Priscyla.

O painel ressaltou que a Inteligência Artificial está passando de uma mera ferramenta de suporte para um elemento central na estratégia das empresas. Além disso, o debate abordou os desafios éticos que emergem com a adoção da IA. A privacidade dos dados e a necessidade de transparência nas decisões automatizadas foram destacadas como preocupações críticas que as empresas devem considerar. Os líderes concordaram que é vital estabelecer diretrizes que garantam o uso responsável da tecnologia, evitando vieses e promovendo a inclusão.

IA e força de trabalho

Outro aspecto importante discutido foi a necessidade de capacitação da força de trabalho. Com a ascensão da IA, surgem novas exigências em termos de habilidades e competências. A formação contínua dos colaboradores é essencial para que eles possam se adaptar a um ambiente de trabalho em constante evolução. As empresas líderes estão investindo em programas de treinamento e desenvolvimento que equipem os funcionários com as habilidades necessárias para navegar nesse novo cenário.

Os palestrantes também mencionaram as oportunidades que a IA traz para a inovação. Eles enfatizaram que, ao integrar tecnologias avançadas, as empresas podem criar novos produtos e serviços que atendam melhor às necessidades dos consumidores. Por fim, o painel concluiu que o futuro dos negócios será indissociável da tecnologia, e a IA será um dos principais motores dessa transformação. As empresas que abraçarem essa mudança e se adaptarem de forma proativa estarão melhor posicionadas para prosperar em 2025 e além.

No último painel do dia, Dario Durigan, secretário-executivo do Ministério da Fazenda; e Nilton Davi, diretor de política monetária do Banco Central do Brasil, trataram o tema “Visão do Setor Público para 2025”.

Durigan apontou a política monetária como principal desafio para crescimento do país.

Incertezas que vêm pela frente

No evento do Plano de Voo, Nilton Davi começou dizendo que as incertezas entre os agentes do mercado financeiro diminuíram em comparação a dezembro, quando o dólar superou a casa de R$ 6,00. No entanto, ele destacou a necessidade de uma taxa de juros elevada, um nível “um pouco além do normal, e que garanta um controle mais seguro da inflação”. Vale destacar que, em janeiro último, o Banco Central aumentou a taxa básica, a Selic, para 13,25% ao ano e sinalizou uma elevação para 14,25% ao ano em março. A taxa de juros está há três anos acima de 10% e, de acordo com as projeções dos agentes financeiros, deve alcançar 15% neste ano, o maior patamar desde 2006.

Contudo, o diretor do BC antecipou que a inflação deve encerrar 2025 em 5,20%, um patamar que supera tanto a meta estabelecida em 3% quanto o limite máximo da meta, que é 4,5%. Ele comentou que a inflação deverá permanecer acima do teto da meta nos próximos seis meses.

“[Serão] Meses desafiadores. E [esperamos] que, em nosso horizonte, convergiremos para a meta, que deve ocorrer basicamente no terceiro trimestre do próximo ano, em torno de 4%, ainda acima do centro da meta, mas já dentro do intervalo”, disse Nilton, que assumiu o cargo em janeiro deste ano, sucedendo Gabriel Galípolo, que agora é presidente da autoridade monetária.

Real em relação ao dólar

Durigan, por sua vez, destacou que a política monetária, com o Banco Central em um ciclo de aumento de juros, representa um desafio. Ele observou uma desaceleração da economia, evidenciada pelos dados do Caged e outros indicadores do final do ano e de janeiro e fevereiro. “Assim, espera-se que o crescimento em 2025 fique inferior ao dos dois anos anteriores”.

Nilton também comentou sobre a volatilidade do real em relação ao dólar. Ele mencionou que o aumento do risco afetou outras moedas no final do ano. Sem mencionar o início do governo do presidente Donald Trump (Republicano), ele destacou que havia uma grande “ansiedade” nos mercados financeiros em função do cenário geopolítico no início de 2025. Segundo ele, em janeiro, ocorreu uma reversão do clima de pessimismo.

Banco Central utiliza a Selic elevada para controlar a taxa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que atualmente se encontra em 4,56% no acumulado de 12 meses. A inflação no Brasil supera a meta de 3% e o teto permitido, que é 4,5%.

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