História ao chão: o patrimônio de Campo Grande em risco

Campo Grande, conhecida por sua rica herança cultural e arquitetônica, enfrenta uma grave crise na preservação de sua história. A demolição de seis imóveis localizados na Zona Especial de Interesse Cultural (Zeic) virou alvo de investigação do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS). Esses imóveis, que possuíam estilos arquitetônicos como art déco, neocolonial e colonial, são peças fundamentais para a identidade cultural da cidade. No entanto, a gestão da prefeita Adriane Lopes tem falhado em proteger esse patrimônio, seja por autorizar demolições em nome de construções modernas, seja por sua omissão em fiscalizar e punir os responsáveis.

O projeto “Redescobrindo a Paisagem Cultural de Campo Grande” identificou mais de 300 imóveis na Zeic, considerados essenciais para preservar a memória do município. Mesmo assim, edificações históricas continuam sendo demolidas sem a devida transparência sobre as autorizações. O caso do Hotel Gaspar, um ícone da arquitetura neocolonial e que não foi demolido, ilustra bem o que está em jogo: preservar o passado é preservar a identidade da cidade.

Entre os imóveis demolidos, encontram-se locais como o prédio na Rua 14 de Julho, um exemplar neocolonial que deu lugar a um estacionamento, e outro na Rua da Imprensa, um art déco substituído por uma construção moderna. Cada demolição representa uma perda irreparável para a memória coletiva, e a omissão da Prefeitura de Campo Grande apenas aprofunda esse dano.

A ausência de respostas da gestão de Adriane Lopes é alarmante. A imprensa tentou obter esclarecimentos sobre as autorizações ou providências administrativas tomadas, mas a prefeita e sua equipe se calaram. Essa falta de transparência é incompatível com a responsabilidade de gerir uma cidade que possui um patrimônio cultural tão rico.

Proteger o patrimônio histórico não é apenas um ato simbólico; é um compromisso com as futuras gerações. As demolições não afetam apenas a paisagem urbana, mas destroem elementos que contam histórias de uma época, de um povo e de suas raízes. A substituição desses imóveis por estacionamentos e construções modernas evidencia a prioridade da atual administração: o progresso a qualquer custo, mesmo que isso signifique apagar o passado.

A negligência de Adriane Lopes é ainda mais grave ao se considerar que a Zeic foi criada justamente para evitar o desaparecimento das características que tornam Campo Grande única. Ignorar essa responsabilidade demonstra um descaso com a cultura e a memória da cidade, prejudicando especialmente os moradores mais antigos, que veem suas lembranças sendo apagadas tijolo por tijolo.

Os estilos arquitetônicos destruídos, como art déco e neocolonial, não são apenas belas fachadas; eles representam a evolução social e cultural de Campo Grande. Cada prédio demolido é uma oportunidade perdida de ensinar às futuras gerações sobre a importância de preservar o que nos torna únicos enquanto cidade e sociedade.

Enquanto isso, o Ministério Público cumpre um papel que deveria ser da Prefeitura: investigar as demolições e garantir que os responsáveis sejam responsabilizados. A destinação das Zeic é clara, mas sem fiscalização e punições adequadas, o trabalho se torna inócuo, e o patrimônio segue desaparecendo.

Campo Grande não pode se dar ao luxo de perder mais fragmentos de sua história por causa da inércia e incompetência da administração pública. Adriane Lopes tem a obrigação de liderar um esforço real para proteger o que ainda resta, apresentando planos concretos de preservação e reforçando a fiscalização para evitar novas perdas.

A preservação da história não é um entrave ao progresso, mas uma forma de garantir que ele seja sustentável e respeitoso com o que nos define como cidade. Sem isso, Campo Grande corre o risco de se transformar em uma paisagem genérica, sem alma, onde o passado é apenas uma lembrança distante.

Compartilhe
Notícias Relacionadas
© 2024 O Consumidor News
Desenvolvido por André Garcia - www.conffi.com.br