A prefeita Adriane Lopes (PP) parece ter se especializado em mais uma arte bastante peculiar: a de transformar promessas de campanha em crateras gigantescas. Após garantir a reeleição no segundo turno, em outubro do ano passado, a gestora resolveu suspender as obras de pavimentação no bairro Ramez Tebet, na saída para São Paulo. O resultado? Ruas intransitáveis, crateras dignas de um cenário pós-apocalíptico e uma população que trocou o sonho do asfalto pela dura realidade da lama e do atoleiro.
A Rua Fidélis Bucker é o retrato perfeito da incompetência administrativa. Engolida por uma cratera que desafia qualquer noção de infraestrutura, a via tornou-se um símbolo do descaso da atual gestão. Moradores revoltados viralizaram nas redes sociais ao registrar a situação e, com uma pitada de ironia, sugeriram que Adriane Lopes está inovando no conceito de habitação subterrânea. Afinal, se não há asfalto, que tal morar no próprio buraco?
As promessas eleitoreiras de Adriane eram grandiosas: R$ 15,3 milhões em investimentos e a pavimentação completa do bairro. Maquinários apareceram, placas foram instaladas e a prefeita usou as obras como peça-chave em sua campanha pela reeleição. Mas, passado o fervor eleitoral, as máquinas sumiram, os trabalhadores desapareceram e o bairro ficou entregue à própria sorte.
“Nos dias de chuva, ninguém consegue passar. Imagina de noite, se alguém não vê a cratera. Isso aqui está perigoso, nos deixaram abandonados”, desabafa um empresário e morador da região. O cenário é desolador e reforça a velha prática de iniciar obras para conquistar votos e abandoná-las assim que as urnas são fechadas.
Segundo o cronograma original, a etapa A da pavimentação, avaliada em R$ 3,7 milhões, teria que estar pronta até janeiro deste ano. Mas, três meses após o prazo final, nenhum metro quadrado de asfalto foi colocado. A etapa C, que inclui os bairros Macaúbas e Campo Grande, ainda está apenas no papel, com promessa de conclusão em 270 dias. Mas, do jeito que vai, nem 270 semanas resolveriam o problema.
Enquanto os moradores convivem com buracos e lama, a prefeitura se especializa em um esporte bastante praticado pelos políticos brasileiros: o jogo da culpa. Antes, Adriane Lopes dizia que Campo Grande estava abandonada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não investia na cidade. Agora, convenientemente, o atraso no repasse federal virou a desculpa perfeita para justificar a paralisação das obras.
De acordo com a assessoria da prefeitura, a continuidade da pavimentação depende da liberação dos recursos federais. Mas, curiosamente, antes da eleição, não havia qualquer entrave financeiro. A promessa de trabalho intenso e compromisso com a cidade se perdeu entre as desculpas esfarrapadas e a burocracia conveniente.
A triste realidade é que a política brasileira continua seguindo seu velho roteiro. A cada dois anos, as ruas são tomadas por placas de obras, maquinários e discursos inflamados. Os eleitores se empolgam, acreditam nas promessas e entregam seus votos. Mas, assim que as urnas são lacradas, as máquinas somem, as ruas continuam esburacadas e o ciclo de desilusão se repete.
Adriane Lopes não fugiu à regra. Seu governo se mostra uma continuação da velha prática de usar obras como moeda eleitoral, sem compromisso com a população. O bairro Ramez Tebet, agora esquecido, é a prova viva de que as promessas de campanha, muitas vezes, valem tanto quanto o asfalto que nunca foi colocado.