Agora tudo começa a fazer sentido. Aquela vitória apertada de Adriane Lopes no segundo turno das eleições de 2024, com uma diferença de míseros 12.587 votos sobre Rose Modesto, deixou muita gente intrigada. Como uma candidata sem histórico de boa gestão, atolada em escândalos administrativos e que transformou a saúde pública num campo de guerra conseguiu se reeleger? A resposta pode estar na ponta dos dedos — mais precisamente, no Pix.
Segundo parecer do procurador regional eleitoral Luiz Gustavo Mantovani, há indícios robustos de compra de votos. E não por qualquer cabo eleitoral obscuro, mas por gente dentro da própria prefeitura, como Simone Bastos Vieira, assessora lotada no gabinete da prefeita à época da eleição. Um Pix feito por ela ao conhecido “Tião da Horta” virou o batom na cueca do processo. Nada como um bom extrato bancário para contar a história que a política tenta esconder.
Se confirmado, esse escândalo explica perfeitamente o milagre da reeleição. Enquanto Rose Modesto, candidata de excelência, caminhava com propostas, responsabilidade e competência, Adriane aparentemente caminhava com planilhas — não de governo, mas de transferência bancária. Afinal, se R$ 50 ou R$ 100 por voto compraram 12 mil consciências, temos aí a campanha mais “eficiente” da história recente da capital.
Pior ainda: o dinheiro era repassado por servidores comissionados, que convenientemente não constavam nas despesas oficiais da campanha. Nem Simone, nem Tião, nem Marcos Paulo, o chefe da articuladora Simone. Todos pagos, todos atuando, todos invisíveis nas contas oficiais. Transparência? Só se for a do Pix.
E não parou por aí. O processo ainda revela uma segunda operação de compra de votos, desta vez organizada por uma senhora chamada Berenice, cuja filha recebia os valores em sua conta e os repassava para pelo menos três eleitores. A aritmética do voto comprado começa a parecer rotina e não exceção.
O mais irônico é que a prefeita ainda tentou usar como defesa um áudio onde Tião da Horta pede votos para a adversária. Tentativa frustrada: o próprio autor do áudio confessou que era “zoeira” dentro do grupo da campanha de Adriane. O desespero de provar o contrário parece mais comprometedor do que o próprio crime.
Diante de tantos indícios, não se trata mais de suposição, mas de uma tragédia cínica com roteiro eleitoral. Se confirmada a captação ilícita de sufrágio, Adriane e sua vice devem ser cassadas e declaradas inelegíveis, como já decidiu o TSE em outros casos muito menos escandalosos. A lei é clara, o precedente existe, e os R$ 50,00 compraram mais do que votos: compraram uma crise de legitimidade.
A população de Campo Grande merece respeito, não um teatro mal ensaiado com dinheiro público pingando em contas pessoais. Merece saúde de verdade, educação, gestão honesta — e não uma reeleição marcada por aplicativos bancários e assessores-fantasma.
Se alguém ainda duvidava de como a prefeita conseguiu se manter no poder, é só seguir o rastro digital: está tudo no extrato. Porque no fim, o que ela não conseguiu com mérito, talvez tenha conseguido com Pix.