Neste 1º de Maio, a prefeita Adriane Lopes tem bons motivos para abrir o espumante e comemorar em grande estilo. Afinal, não é todo dia que se ganha um aumento de 66,7% no próprio salário e passa a receber os mesmos R$ 35 mil que o governador Eduardo Riedel. E se depender da Câmara Municipal, a festa se estende ao alto escalão: os secretários, que antes viviam com modestos R$ 11 mil, agora terão R$ 30 mil para pagar os boletos — e, quem sabe, até para comprar a lealdade política com mais conforto.
Enquanto isso, a vice-prefeita Camilla Nascimento pode caprichar no banquete de comemoração. O salário dela dobrou e agora chega a quase R$ 32 mil. Os vereadores também não ficaram de fora da farra orçamentária e garantiram um reajuste de 37,32%. Tudo aprovado com rapidez, sem greve, sem paralisação, sem comissão de negociação — basta querer. E querer, eles quiseram.
Do outro lado da cidade, cerca de 6 mil servidores da prefeitura continuam vivendo abaixo da linha do salário mínimo. Isso mesmo: gente que trabalha todos os dias para manter escolas, postos de saúde e serviços essenciais funcionando recebe menos do que o mínimo legal. Mas essa realidade parece não sensibilizar a prefeita, que prefere reajustar o topo e congelar a base.
São três anos sem qualquer reposição inflacionária para os mais de 30 mil servidores da Capital. A defasagem salarial chega a 30%, segundo o Sisem, e a revolta começa a se transformar em mobilização. A categoria vai discutir uma paralisação de alerta no dia 7 de maio. E não é por ambição: é por dignidade. A educação, especialmente, virou alvo de desmonte silencioso — 95% dos administrativos da área recebem menos que um salário mínimo.
A ironia é amarga. Em vez de fazer justiça salarial, a gestão Adriane Lopes decidiu consagrar o modelo do “Robin Hood às avessas”: tira-se dos que menos têm, congela-se quem mais precisa e presenteia-se generosamente a cúpula da máquina pública. O teto salarial da Prefeitura agora é de R$ 35 mil. Enquanto isso, o piso segue enterrado na vergonha.
Nem mesmo a fé que Adriane gosta de ostentar nas redes sociais serviu para proteger os trabalhadores. Desde que assumiu o cargo, a primeira evangélica eleita prefeita de Campo Grande não concedeu um único reajuste inflacionário ao funcionalismo. Mas o próprio salário, esse sim, teve direito até a retroativo. Deus proverá para alguns — para outros, nem vale-transporte.
Já no Governo do Estado, a história é outra. Com Eduardo Riedel, os servidores estaduais tiveram a reposição da inflação: 5% em 2023, 3,73% em 2024 e novo reajuste de 5,06% anunciado agora. Já em Campo Grande, a prefeita sinaliza que não tem condições — ou talvez vontade — de garantir sequer isso.
A última vez que os servidores municipais viram um centavo de aumento foi em 2022, ainda na gestão Marquinhos Trad. Desde então, Adriane congelou os vencimentos, mas esquentou o próprio contracheque. O discurso de austeridade vale apenas para quem limpa escola, atende no posto ou cuida de creche. Para os de cima, o céu é o limite.
Neste Dia do Trabalhador, Adriane Lopes não precisa se preocupar com discurso. O contracheque já fala por ela. E enquanto o servidor aperta o cinto, ela aperta o botão do ar-condicionado no gabinete — pago com dinheiro de quem não tem aumento nem esperança.