Santa Casa da Capital: crise sem fim

A situação da Santa Casa de Campo Grande mais uma vez ganha as manchetes, repetindo um enredo que parece nunca ter fim. Diante de novas dificuldades financeiras, a instituição viu-se obrigada a paralisar suas cirurgias eletivas por nove meses, impondo sofrimento a milhares de pacientes que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Agora, com um novo socorro financeiro, tardio como de costume, o hospital anuncia a retomada gradual desses procedimentos.

É preciso refletir: será essa a última crise? A história recente mostra que a resposta é negativa. A Santa Casa, a maior instituição hospitalar do Estado, vive em um ciclo de colapsos sucessivos que deixam evidente um problema estrutural: é uma fundação privada, mas depende fortemente de recursos públicos. Esse modelo híbrido, que mistura autonomia administrativa e financiamento estatal, cobra um preço alto, especialmente quando não há eficiência na gestão nem rigor no cumprimento dos repasses.

O orçamento da Santa Casa é gigantesco. São centenas de milhões de reais que transitam todos os anos pelas mãos da administração hospitalar e do poder público municipal, gestor pleno dos recursos federais destinados ao SUS. Mesmo operando no vermelho, o volume de dinheiro movimentado é expressivo e exige um grau de responsabilidade e transparência que, infelizmente, nem sempre se vê.

O socorro agora aprovado é um alívio momentâneo, mas é, na essência, uma solução paliativa. Serve para apagar o incêndio de hoje, mas não evita que novos focos surjam amanhã. Sem mudanças estruturais, a próxima crise é apenas questão de tempo. A Santa Casa precisa mais do que aportes emergenciais: necessita de uma revisão profunda em seu modelo de gestão, em seus contratos, em suas práticas administrativas.

A verdadeira solução passa, em primeiro lugar, por mais transparência nos gastos. A sociedade tem o direito de saber como cada centavo é aplicado dentro do hospital. Passa, também, por mais eficiência administrativa, com processos claros, custos controlados e metas de desempenho bem definidas. E, claro, pela responsabilidade do gestor público, no caso o município de Campo Grande, que não pode – em hipótese alguma – atrasar os repasses e agravar ainda mais o quadro financeiro da instituição.

É inadmissível que, no século 21, um hospital do porte da Santa Casa esteja sujeito a oscilações orçamentárias tão graves e frequentes. Pacientes ficam no limbo, profissionais de saúde trabalham sob pressão e a saúde pública, como um todo, sofre com a imprevisibilidade. A Santa Casa é um patrimônio da população sul-mato-grossense e deve ser tratada como tal: com seriedade, planejamento e responsabilidade.

O desafio está posto. Ou se rompe o ciclo de improviso e emergência, ou continuaremos reféns de uma crise sem fim, que só mina ainda mais a confiança na capacidade de gestão da nossa saúde pública. É hora de agir com visão de futuro – antes que a próxima crise se anuncie.

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