Crianças de 1 a 9 anos compõem a principal faixa etária dos casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em Mato Grosso do Sul. Conforme o último boletim epidemiológico divulgado pela SES (Secretaria de Estado de Saúde), só este grupo somava 584 casos confirmados.
Uma moradora – que terá identidade preservada -, chegou na Upa (Unidade de Pronto Atendimento) Universitário por volta das 15h. Ela conta que muita gente chega, vê a recepção lotada e vai embora. A moradora acompanhava o filho de apenas 1 ano e seis meses.
“Não venho aqui desde janeiro porque sempre demora, então evito. Ele tem um quadro de bronquiolite recorrente, a médica até indicou uso de bombinha e eu estava tratando em casa. Só que ele piorou e eu decidi trazer. Fiquei uns 15 minutos esperando em pé, com ele no colo, até vagar um banco pra eu sentar”, lamenta.
A cena se repete na Upa Coronel Antonino. Embora houvesse pacientes idosos ou adultos, a grande maioria dos pacientes aguardando atendimento eram crianças. A triagem não demorava, por outro lado, havia paciente aguardando atendimento há mais de 3h.
Um casal que havia levado a filha de 3 anos para a Upa conversou com a reportagem e explicou que o estado clínico da pequena tornou-se crítico rapidamente. Até domingo ela estava bem, mas na segunda apresentou febre altíssima. Por isso, os pais correram para a unidade de saúde.
“A Upa está lotada e só conseguimos atendimento rápido porque o estado dela era crítico, ela estava com uma febre alta, mas tem pais aguardando atendimento pro filho desde meio-dia”, conta a mãe. “Deu uma mancha no pulmão, ela está com pneumonia. Precisa de um antibiótico, mas aqui não tem. Vamos lá na Upa Nova Bahia ver se encontramos”, pontua.
Com pressão alta e um bebê de apenas 15 dias no colo, Janaina e o filho mais velho aguardavam atendimento. A moradora até se surpreendeu com a rapidez na triagem, mas temendo que o atendimento demorasse, preferiu não expor a família ao risco de pegar gripe. Preferiu esperar o atendimento médico em pé, na calçada. “A triagem é sempre demorada. Acho que está rápido porque vocês estão aqui”, comenta.
Conforme apurado pela reportagem, o atendimento torna-se lento nas unidades porque há muita ficha amarela, ou seja, casos tratados como prioridade. Com tanta gente em situação de emergência, quem busca atendimento para situações menos graves, precisa esperar mais. Quem é classificado na ala azul, por exemplo, pode esperar até 5 horas. Além disso, não há leitos, os hospitais estão superlotados.
Assim, embora a escala médica esteja completa, os casos mais graves requerem dedicação de muitos profissionais simultaneamente, o que resulta em atrasos. “É muita gente doente para poucos profissionais”, informa uma profissional que atua na linha de frente de uma unidade de saúde de Campo Grande.
Os atendimentos da Santa Casa permanecem suspensos e isso acaba impactando a busca por atendimentos nas unidades de saúde. Conforme a direção do hospital referência, a situação está “abrandada”, porém não há data para que as atividades no setor sejam restabelecidas.
Em nota, a Santa Casa afirmou que a decisão de suspensão dos atendimentos “atinge em especial os pacientes ortopédicos”. Até que a situação seja normalizada, serão admitidos “apenas casos de urgência e emergência de referências exclusivas”.
Os atendimentos foram suspensos no último sábado (10) em razão do desabastecimento grave de insumos no centro cirúrgico; risco iminente de desassistência grave; e potencial risco de agravamento clínico e óbito. Conforme a Santa Casa, cerca de 60 pacientes aguardam por cirurgias de urgência dentro do hospital. Cerca de 350 pacientes aguardam por marcação de cirurgia eletiva.
Com os atendimentos suspensos, mantêm-se apenas as emergências da neurocirurgia e IAM (Infarto Agudo do Miocárdio) com Supra de ST, além do acompanhamento contínuo dos pacientes já internados ou em estado crítico sob cuidados da Santa Casa e suspeitas de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que tem afetado principalmente as crianças.
Com a paralisação parcial de atendimentos na Santa Casa, alguns pacientes são mantidos em unidades de saúde. Lá, recebem medicações e orientações até que o encaminhamento seja aceito pelo hospital.
É o caso da paciente Rosa Alves, que está na Upa Universitário desde às 14h de domingo (11). Com uma dor insuportável no ouvido, e possibilidade de perder a audição dos dois ouvidos, ela aguarda uma vaga na Santa Casa.
“Estou com infecção nos ouvidos. A médica já fez encaminhamento para a Santa Casa, porque ela disse que lá é referência e só lá vou conseguir especialista. Só que eles não aceitam. Estou aqui desde ontem, eles estão aplicando antibiótico, mas não tem mais o que fazer, eles não têm estrutura pra isso”, explica a moradora.
“Essa noite eu dormi nas cadeiras da recepção. A médica não queria me liberar porque meu caso parece greve, até biópsia parece que vou ter que fazer, mas a enfermeira falou que eu precisava comer, tomar banho. Estou preocupada e a médica também, porque posso perder minha audição. Estou sentindo dor no pescoço e até febre tá querendo dar”, lamenta.
Em nota, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que foi comunicada pela direção da Santa Casa de Campo Grande sobre a restrição temporária no atendimento do pronto-socorro da unidade e que não se trata de um fechamento, mas sim de uma limitação no número de casos recebidos, os quais estão sendo analisados previamente pela Central de Regulação, em conjunto com a diretoria do Hospital.
A Sesau reforçou que nenhum paciente ficará desassistido e que os casos que necessitam de atendimento estão sendo redirecionados para outras unidades hospitalares, garantindo a continuidade e a segurança no cuidado à população.