A Igreja Assembleia de Deus Missões de Campo Grande (IADMCG) se tornou um verdadeiro celeiro de políticos e um trampolim para o poder. Com a missão oficial de levar o evangelho e fazer discípulos, a instituição também tem demonstrado talento inegável para arrebanhar eleitores e garantir cargos estratégicos na prefeitura. Sob as bênçãos da fé, a prefeita Adriane Lopes (PP) nomeou 12 pastores da sua própria igreja para cargos comissionados, com salários que variam entre R$ 4.403 e R$ 9.567. Um verdadeiro milagre financeiro.
A igreja já tem histórico na política campo-grandense. Seu nome mais famoso talvez seja Gilmar Olarte, ex-prefeito que acabou renunciando após ser envolvido em um escândalo de corrupção. Olarte, antes de ascender ao cargo, já era figura conhecida no meio evangélico, e sua ligação com a Assembleia de Deus Missões foi amplamente citada em discursos políticos.
Em 2014, quando Olarte assumiu a prefeitura após a cassação de Alcides Bernal, houve comemoração eufórica dentro da igreja. O então vereador Elizeu Dionizio fez questão de destacar a trajetória religiosa do novo prefeito e comemorou a ascensão de um irmão de fé ao comando da cidade. Uma nova história começava, mas terminou como todos sabem: com condenação por corrupção e prisão.
A relação entre a igreja e a política se fortaleceu nos anos seguintes. Além de Elizeu, filho do pastor Antonio Dionizio (presidente da IADMCG desde 1991), a igreja também emplacou figuras como Lídio Lopes, atual deputado estadual e, coincidentemente, esposo da prefeita Adriane Lopes. Também garantiu cadeiras para Junior Longo, ex-vereador, e uma série de nomeações estratégicas na administração municipal.
Durante um culto no final de 2024, o pastor Lídio Lopes relembrou sua trajetória política e exaltou o sucesso do projeto de poder que começou em 2006 e se consolidou em 2024 com a eleição da esposa. O tom do discurso não deixava dúvidas: o plano era meticulosamente traçado e executado com precisão divina.
A lista dos contemplados com cargos na gestão Adriane inclui nomes como Hemerson Ortiz da Mota, Marcos Ferreira Chaves de Castro, Jorge Luís Franco, Julinei Herão Ferreira, Emerson Marques do Amaral, Moacir Frank da Costa, Jusley Gonçalves Lopes, Enoque Camposano, Emerson Irala de Souza, Jadir Cabral, Ciro Vieira Ferreira e Fausto Azevedo Tlaes. Nenhum deles foi escolhido por concurso público, mas sim pela fé e proximidade política.
O exemplo de Gilmar Olarte serve como um lembrete do que acontece quando a fé e a política se misturam de maneira conveniente. Depois de um ano e meio no cargo, ele se tornou o primeiro prefeito da história de Campo Grande a ser preso por corrupção. Condenado a oito anos e quatro meses por corrupção e lavagem de dinheiro, Olarte ainda responde por outros processos e tem um histórico nebuloso envolvendo a compra de uma mansão no Damha com dinheiro sem origem comprovada.
Mas, ao que tudo indica, a lição não foi aprendida. A prefeita Adriane Lopes segue distribuindo cargos entre seus irmãos de fé, garantindo que a máquina pública seja cada vez mais um braço da igreja. Resta saber se a população de Campo Grande continuará assistindo passivamente a essa união entre altar e palanque, ou se em breve veremos mais um “eleito por Deus” enfrentando os tribunais terrenos.